
Vi com muita tristeza o drama do produtor cultural Luis Fernando Proa, que entregou à polícia o próprio filho, que acabara de assassinar uma jovem após consumo de crack.
De família de classe média do Rio de Janeiro, o rapaz de 26 anos contou à polícia que não se lembrava de nada do que fez. Ele teria matado a jovem por asfixia dentro de seu apartamento, no bairro do Flamengo, na cidade do Rio. O pai do rapaz conta que o filho é viciado em crack há seis anos e que já esteve internado quatro vezes. Ele critica o atual sistema público de internações de dependentes no Brasil, onde só quem quer tem acesso ao tratamento
Semana passada, uma mãe no Rio Grande do Sul mostrou ao país o seu drama com o filho. Dependente de crack, o rapaz de 22 anos e viciado há três era mantido preso em casa em uma cela construída pela mãe. Cansada de várias internações sem sucesso e fugas do rapaz, a mãe chegou a conseguir na justiça um mandado de internação em um hospital público de Porto Alegre.
Violento, ele já chegou a quebrar móveis e paredes dentro de casa para alcançar a fuga. Também na última semana, aqui em Goiânia, uma jovem estudante de Fisioterapia morreu ao cair do décimo andar de um prédio de classe média alta em bairro nobre da capital.
No mesmo dia do acidente, o marido da vítima, também estudante de Fisioterapia, foi preso em flagrante suspeito de ter jogado a moça. Aos policiais, ele contou versões diferentes, mas disse ser viciado em crack e que não se lembra do ocorrido.

Surgido na década de 80 entre moradores de rua, o crack é a versão pobre da cocaína, mas com poderes de destruição muito superiores. A droga avançou classes sociais e está presente hoje até mesmo nas camadas sociais mais altas. Em Minas Gerais, a droga mostrou que não escolhe a quem destruir. No último domingo, 25, o prefeito da cidade de Raposos (região metropolitana de Belo Horizonte), João Carlos da Aparecida, foi preso em flagrante em frente a uma das favelas mais perigosas da capital mineira.
Com ele, foram encontradas três pedras de crack e um cachimbo. Completamente alterado pela droga, o prefeito confessou ser dependente químico e disse que passa por depressão e problemas particulares. Ele foi afastado por 180 dias pela Câmara de Vereadores do município. Bem mais barato do que a cocaína, o crack é consumido pela inalação.
Depois de fumada, a droga chega ao cérebro em segundos. Seu efeito rápido gera maior abstinência e um poder de criar dependência no usuário bem mais forte. O crack destrói os neurônios e gera transtornos, como delírios a alucinações. O tratamento contra a dependência é considerado bastante complexo e exige muita determinação do viciado, bem como de toda sua família. De custo muito barato (cada pedra pode ser comprada entre 2 e 3 reais), a droga avança perigosamente entre jovens.

A Polícia estima que 90% dos moradores de rua do Rio de Janeiro sejam viciados em crack. Apesar de haver no Brasil lei específica que permite a internação involuntária (contra a vontade do dependente), os familiares de dependentes reclamam da dificuldade de buscarem tratamento para a doença. Muitos especialistas afirmam que não há no país uma política eficaz de combate ao problema.
A dependência do crack, bem como de outras drogas, é um problema de saúde pública, cujo combate deve envolver todos os setores da sociedade. O problema pode começar nas ruas, na escola ou até mesmo dentro de casa.
Deve se pensar em novas formas de tratamento para dependentes, mas também em evitar futuros viciados. Para a ONU, que mantém um escritório só para monitorar o consumo de drogas e os crimes praticados por dependentes químicos, as políticas para inibir o consumo são meramente repressoras e não são eficazes.
A entidade atesta que o número de usuários de drogas ilícitas vem crescendo em todo o mundo em progressão assutadora. Em seus relatórios, a ONU já atesta o consumo de drogas como uma epidemia mundial. E esta dependência, segundo a entidade, pode começar pelas drogas consideradas lícitas, como o álcool e o cigarro.
O combate à dependência não é tarefa apenas da polícia ou dos governos. É também tarefa nossa, no dia-a-dia, no acompanhamento dos nossos filhos. O vício entrou pela mesma porta que abandonamos. Na medida em que não acompanhamos os passos dos nossos filhos, não sabemos com quem eles lidam nos seus relacionamentos diários, seja no trabalho, na escola ou pela internet, pode estar aí a porta de entrada para um mundo que talvez não tenha volta. Isto pode ser feito sem repressões, perseguições ou restrições.
O caminho ainda é o diálogo aberto e franco com os jovens. Não se deve omitir informações. Devemos pesquisá-las ao máximo para que possamos repassá-las na melhor linguagem possível. Não é possível estar o tempo todo ao lado deles. Mas é possível ter a certeza de que eles saberão se defender. Não sabemos onde está o inimigo. Só sabemos que ele existe.
http://www.radio730.com.brBlog do Amauri Garcia
O jornalista Amauri Garcia aborda informações sobre diversos assuntos, incluindo destaques do programa Primeiro Lugar, que ele apresenta de segunda à sexta-feria, a partir das 15h.

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